Os resultados finais das Eleições Municipais de 2024 indicam que os partidos de centro-direita partem bem posicionados para as articulações visando ao próximo pleito: o de 2026 para Presidência da República, Senado, Câmara e governos estaduais.
Os partidos que mais têm motivos para comemorar são PSD e MDB, que mais conquistaram prefeituras, incluindo cinco capitais cada. Apesar de oficialmente estarem na base de apoio do governo Lula (PT), inclusive ocupando ministérios, as duas siglas pendem mais para a direita do que para a esquerda. Tanto que estiveram unidas na vitória mais importante desta eleição, a da capital paulista, onde Ricardo Nunes (MDB) levou a melhor sobre Guilherme Boulos (PSol), que era o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Com participação tímida na campanha municipal, o presidente petista pode celebrar uma ligeira recuperação de seu partido, que voltará a governar uma capital depois de quase 8 anos: Fortaleza, onde Evandro Leitão venceu (por bem pouco) o bolsonarista André Fernandes (PL). Ao todo, porém, o PT termina a eleição com 252 prefeituras. Bem menos que as 885 do PSD; as 853 do MDB; as 746 do PP; as 583 do União Brasil; as 516 do PL; e as 433 do Republicanos. Veja o ranking (que ainda pode mudar devido a decisões judiciais):
A preferência dos eleitores brasileiros por políticos do campo conservador foi comentada, logo após a divulgação dos resultados, pelo deputado federal André Janones (Podemos-MG), aliado de Lula e crítico cotidiano das estratégias da esquerda. “O Brasil tem uma nova polarização: direita x extrema direita”, escreveu o mineiro no X, antigo Twitter. “Continuem divulgando ações através de site, panfletagem, e falando todes pra uma bolha de alienados soberbos intelectualmente que nem sabem mais o que é povo! Continuem nesse caminho que em 2026 a coça vai ser doída”, completou ele.
Nomes para 2026 ainda são uma incógnita
Apesar da força mostrada pelos partidos de centro-direita no pleito municipal, ainda é difícil projetar os nomes competitivos para a disputa nacional que acontecerá em dois anos. Do lado da esquerda, Lula tem sinalizado que pretende disputar mais uma reeleição, mas o petista completou 79 anos no domingo (27/10) e suas condições de saúde terão de ser levadas em conta para a decisão final. Como opções no campo progressista são falados nomes como o do ministro Fernando Haddad (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do prefeito reeleito do Rio, Eduardo Paes (PSD).
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também tem mostrado disposição para voltar a se candidatar, mas para isso precisaria reverter a ilegibilidade imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e escapar de possíveis condenações no Supremo Tribunal Federal (STF) em ações nas quais pode ser denunciado em breve, como a da investigação de uma suposta tentativa de golpe de Estado nos eventos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023.
E mesmo que o PL tenha conseguido um resultado positivo no geral, candidatos da ala mais ideológica do partido, mais ligados ao ex-presidente, não foram tão bem. Seus dois ex-ministros que disputaram eleições municipais perderam: o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga (PL), em João Pessoa, e o ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL), que nem foi para o segundo turno em Recife (PE), onde venceu João Campos (PSB), aliado de Lula. Também amargou uma derrota o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem (PL), vencido por Paes no Rio no primeiro turno.
Bolsonaro ainda esteve ausente do palanque da vitória em São Paulo, onde mal foi citado – ao contrário do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é um dos mais cotados para representar a direita na eleição federal, apesar de não ter soltado a mão de Bolsonaro. O prefeito reeleito da capital paulista festejou muito o governador, que chamou de “grande líder”.
Já Bolsonaro passou o dia da eleição em Goiás, onde colheu uma derrota na capital para outro nome que deseja seu lugar no coração dos conservadores: o governador Ronaldo Caiado (União). Em Goiânia, Sandro Mabel (União), apoiado por Caiado (foto em destaque), venceu Fred Rodrigues (PL), o candidato bolsonarista, por 10 pontos de diferença.
Ao celebrar essa vitória, o presidente do partido, Antonio Rueda, deu o tom do discurso da ala da direita que pretende suceder Bolsonaro nas disputas futuras, de que o governador goiano ganhou contra o “extremismo”.
Kassab, o fiel da balança
Pelos números do PSB, fica fácil apontar o nome do presidente da legenda, Gilberto Kassab, como o grande vencedor dessas eleições municipais. Com a força conquistada, o habilidoso político paulista poderá decidir com calma o caminho a trilhar nas próximas eleições. Hoje, ele tem um pé em cada canoa: participa das administrações de Nunes e de Tarcísio em São Paulo, fazendo parte do primeiro escalão do governador, na pasta de Relações Institucionais, e também mantém a sigla como base do governo Lula, o que lhe rendeu três ministérios: Minas e Energia, Agricultura e Pesca.
Apesar de toda essa musculatura política, porém, faltam ao PSD de Kassab nomes competitivos para disputar com força uma eleição ao Palácio do Planalto. Enquanto lida com essa situação, Kassab evita dar pistas sobre que lado pretende escolher daqui a dois anos e sinaliza que quer ter um candidato a presidente, o governador Ratinho Júnior, de Santa Catarina.
Eleições para a presidência de Câmara e Senado são o próximo embate
O caminho dos partidos brasileiros para buscar competitividade em 2026 passa pela eleição do comando de Câmara e Senado para o próximo biênio, que acontece em fevereiro do ano que vem. No caso do Senado, o União Brasil de Davi Alcolumbre já pode computar uma vitória sem percalços.
Na Câmara, porém, a disputa está acirrada, mas todos os favoritos são de centro-direita. Disputam a cadeira de Arthur Lira (PP-AL) o líder do Republicanos na Câmara, Hugo Motta (PB); o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA); e o do PSD, Antonio Brito (BA).
Esquerda vence no menor número de prefeituras em 20 anos
Os partidos de esquerda, somados, elegeram o menor número de prefeitos nas eleições municipais de 2024 em comparação a todas as outras disputas nos últimos 20 anos. Juntos, PT, PSB, PDT, PC do B, PV, Rede e Psol ganharam o comando municipal de 749 cidades neste ano, número inferior ao registrado em todas as disputas eleitorais de 2004 a 2020.
O ápice da esquerda nas corridas por prefeituras foi em 2012, quando esses partidos, juntos, elegeram um total de 1.533 mandatários. Na época, a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), estava em seu momento de maior popularidade – segundo o Datafolha, 62% dos brasileiros avaliavam o seu governo como bom ou ótimo no final daquele ano. Foi o ano que consagrou Fernando Haddad (PT) como prefeito de São Paulo, enquanto o PT, sozinho, conquistava um total de 636 prefeituras no país.
A partir da eleição seguinte, os partidos de esquerda foram reduzindo os seus números. Em 2016, ano em que Dilma foi derrubada do cargo por conta de um processo de impeachment capitaneado pela direita, o número de eleitos petistas caiu a menos da metade. Em 2020, ano marcado pela pandemia da covid-19, foi a vez de PSB, PV e PCdoB verem seu número de prefeitos cair pela metade em comparação à eleição anterior.
O ano de 2024, assim, não registra apenas uma queda no número absoluto de prefeituras conquistadas, mas também uma mudança na composição desse rol de eleitos pela esquerda. O PT teve alguma recuperação – foi de 183 prefeitos eleitos de 2020 para 252 neste ano – mas não é mais o partido hegemônico. Fica atrás do PSB, que também aumentou seu número de comandos municipais nestas duas eleições: de 252 a 309. As perdas dos outros partidos, no entanto, foi mais que suficiente para compensar os ganhos dos dois partidos. O PDT de Ciro Gomes caiu de 314 para 151 eleitos. PCdoB e PV, legendas que estão em federação com o PT, registraram queda novamente.
Extrema direita cresce em estados estratégicos e fortalece planos de Tarcísio, Nikolas e Gayer para 2026
O Centrão foi o grande vencedor das eleições municipais. Marcado pelo fisiologismo e por muito dinheiro de emendas que irrigam suas bases eleitorais, vai comandar seis em cada 10 cidades brasileiras a partir de 2025. Mas os partidos de direita e extrema direita também saíram fortalecidos e ganharam terreno para 2026 em quatro das cinco regiões do país, com vitórias em estados estratégicos que fortalecem os planos de Tarcísio Freitas, Nikolas Ferreira e Gustavo Gayer para 2026.
Enquanto isso, os partidos de esquerda perderam força no Norte, no Sul e no Centro-Oeste. No Sudeste, o avanço foi tímido: 7,5%. Já no Nordeste houve um crescimento de 38,2% na quantidade de prefeituras em relação a 2020. Esse resultado, além de garantir o saldo positivo da esquerda no desempenho nacional, reforçou a região como principal reduto para uma provável candidatura do presidente Lula à reeleição.
Esses cenários são resultado de um levantamento feito pelo Intercept Brasil. Nele, foram considerados como partidos de direita Agir (ex-PTC), DC, Novo, PL, PMB, PP, PRD, PRTB e Republicanos — a análise de dados das eleições de 2020 ainda incluiu siglas que não existem mais: PSC (incorporado pelo Podemos); PSL (virou União Brasil após fusão com o DEM); PTB e Patriota (a fusão de ambos gerou o PRD).
Já os partidos de esquerda foram PT, PC do B e PSOL. Os demais foram classificados como de centro-direita ou centro-esquerda. Vale ressaltar que há 41 eleições municipais sub judice, ou seja, aguardam decisão da Justiça Eleitoral para confirmar o resultado. Destas, 15 envolvem candidatos da direita, sendo sete do Republicanos, cinco do PP e um de PL, União e PRD.
No primeiro turno, mostramos que a maioria dos candidatos apoiados publicamente pela tropa de choque da extrema direita no Congresso — Nikolas, Carla Zambelli, Gayer, Damares Alves e Eduardo Bolsonaro — não foi eleita. Agora, os resultados finais mostram que, apesar da declaração de voto não garantir a eleição, os partidos de direita saem bem-sucedidos na estratégia de criar uma base para se fortalecer para 2026.
Republicanos abocanhou o dobro de prefeituras
O Republicanos, partido ligado à Igreja Universal e sigla do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, foi a sigla de direita que mais cresceu no país: conquistou 223 novas prefeituras em 2024, uma alta de 102,8%. Com isso, passou de 217 vitórias em 2020 para 440 neste ano.
No mesmo período, o PL avançou de 349 para 517 (+48,1%), enquanto o PP foi de 701 para 752 (+7,3%). Outro destaque foi o Novo, que saiu de uma para 19 prefeituras (+1.800%).
Vale ressaltar que o partido de Tarcísio, ao qual também pertence a senadora Damares Alves, do DF, cresceu nas cinco regiões do país. Foram 184 vitórias no Sudeste (+132,9% em relação a 2020), 82 no Norte (+355,6%), 124 no Nordeste (+31,9%), 36 no Sul (+176,9%) e 14 no Centro-Oeste (+7,7%).
No estado de São Paulo, o salto foi de 23 para 87 prefeituras — crescimento de 278,3%. Com isso, o Republicanos comandará 13,5% dos municípios paulistas. Juntos, os partidos de direita venceram em 249 cidades no estado, contra 172 em 2020.
Mais do que aumentar a força partidária em seu reduto eleitoral, Tarcísio ainda comemorou a vitória de Ricardo Nunes na capital. Apesar do prefeito reeleito ser do MDB, o governador bancou sua candidatura desde o início, diferentemente de Jair Bolsonaro, do PL, que o apoiou mais timidamente e chegou a levantar dúvidas sobre quem seria seu favorito em meio à disputa no primeiro turno entre Nunes e Pablo Marçal, do PRTB.
PL cresce e fortalece Nikolas, Eduardo Bolsonaro e Gayer
Outro partido de direita que ampliou suas bases nesta eleição municipal foi o PL. O salto de 349 para 517 prefeituras (+48,1%) em relação ao desempenho de 2020 é ainda mais significativo porque se traduziu, também, em mais prefeitos conquistados nos redutos de nomes importantes da sigla que flertam com uma candidatura a governador ou ao Senado.
Em Minas Gerais, apesar da derrota no segundo turno em Belo Horizonte, o PL aumentou de 41 para 53 o total de prefeituras (+29,3%) na comparação com as eleições de 2020. Além disso, os partidos de direita e centro-direita, juntos, comandarão 768 municípios a partir do ano que vem, o equivalente a 90% das cidades mineiras.
Um dos principais líderes do PL no estado, o deputado federal Nikolas Ferreira, que apoiou publicamente 21 das 53 vitórias da sigla, tem feito mistério sobre uma candidatura a governador.
Recentemente, em entrevista ao jornal O Tempo, ele disse que não sabe ainda que rumo tomar em 2026, mas pontuou que “não quer queimar cartucho” e governar Minas tendo Lula como presidente, por temer que o petista o prejudique. Outro nome em ascensão na direita no estado é o senador Cleitinho, do Republicanos, que é próximo de Nikolas.
Já em São Paulo, o PL mais do que dobrou suas prefeituras. Passou de 41 em 2020 para 105, um avanço de 156,1%. O desempenho também reforça os planos de figuras como Eduardo Bolsonaro, por exemplo, de tentar trocar a Câmara pelo Senado. Além disso, caso Tarcísio mire a presidência em 2026, abre caminho para que o partido lance um nome próprio para concorrer ao governo estadual.
Em Goiás, em que pese a derrota no segundo turno em Goiânia, o PL também ganhou terreno. Passou de 14 prefeituras em 2020 para 26 (+85,7%). A ampliação das bases faz com que o deputado federal Gustavo Gayer ganhe força em uma futura disputa ao governo, hoje comandado por Ronaldo Caiado, do União Brasil, que não pode disputar a reeleição.
Esquerda só amplia força no Nordeste
Em números absolutos, os partidos de direita venceram em 1.819 municípios, o que representa um aumento de 3,7% em relação ao desempenho nas eleições de 2020. Já as siglas de esquerda ganharam em 271 cidades (+14,8%) — mas o ganho percentual não significa uma ascensão proporcional nas cinco regiões do país.
Enquanto os partidos de direita aumentaram o número total de prefeituras nas regiões Sul (+22,3%), Sudeste (+22,9%), Centro-Oeste (+6,9%) e Norte (+35,2%), a esquerda teve um leve avanço no Sudeste, com 43 vitórias (+7,5%) e só se fortaleceu no Nordeste, onde passou de 136 para 188 municípios (+38,2%).
Foi na região, inclusive, que houve a única vitória de uma sigla de esquerda em capitais, em Fortaleza, no Ceará. Evandro Leitão, do PT, obteve 50,38% e venceu André Fernandes, do PL – uma diferença apertada de 10.838 votos em cerca de 1,5 milhão de eleitores.
No Norte, a queda foi de 50%, com apenas sete eleitos em 450 municípios. Além disso, a esquerda amargou uma derrota acachapante em Belém, no Pará, onde o atual prefeito Edmilson Rodrigues, do PSOL, sequer conseguiu chegar ao segundo turno.
Já no Sul, a redução foi de 26,8%, com apenas 30 eleitos em 1.191 cidades — ao menos a candidata Cristina Graeml, do PMB, foi derrotada na disputa de segundo turno em Curitiba, no Paraná. No Centro-Oeste, a esquerda caiu de 5 eleitos em 2020 para apenas 3 em 2024 (-40%).
O PT, entretanto, registrou um crescimento no total de prefeituras no Brasil na comparação com quatro anos atrás. Passou de 182 para 252, uma alta de 38,5%. Por outro lado, 170 dessas vitórias foram em municípios do Nordeste, o equivalente a 67,5% do total.
Vale pontuar que o número de prefeituras não é garantia de transferência direta de votos para esquerda ou direita na disputa presidencial. Lula é um exemplo disso: ganhou em 2022 e, dois anos antes, a esquerda só havia eleito 236 prefeitos no país.
Por outro lado, os resultados reforçam o peso do Nordeste para a esquerda, como foi na vitória sobre Jair Bolsonaro em 2022 — na região, Lula ganhou em 98,9% das cidades no segundo turno.
Prefeituras são a base para 2026
No início de outubro, pouco antes do primeiro turno, o deputado Gustavo Gayer fez um post em que revelou parte da estratégia da extrema direita nestas eleições: tentar eleger o maior número possível de prefeitos. Gayer disse que “serão esses prefeitos que vão usar toda a máquina e estrutura em 2026 para eleger senadores”.
Ele ainda disse que a extrema direita “errou no passado” ao “não se preocupar” em formar uma base de prefeitos e vereadores. E que a estratégia de “aumentar os prefeitos de direita” pelo Brasil passa por escolher nomes “muito bem selecionados” e que tenham um posicionamento em comum em “pautas específicas” para apoiar a campanha de 2026.
No primeiro turno, no entanto, mostramos que essa transferência de votos não é tão direta assim: a maioria dos candidatos a prefeito apoiados publicamente pela tropa de choque da extrema direita no Congresso saiu derrotada. Dos 117 políticos que receberam o aval dos deputados Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro, Gustavo Gayer e Nikolas Ferreira, do PL, e da senadora Damares Alves, do Republicanos, só 31% foram eleitos em 6 de outubro — dos 12 que avançaram para o segundo turno, apenas 4 venceram (33,3%).
“Se você estabelece vínculo de base com um prefeito eleito não deixa de ser um recurso político e uma vantagem para chegar em 2026 visando obter uma votação expressiva para o Congresso ou até tentar se lançar em uma eleição majoritária”, disse, na ocasião, o cientista político Jorge Chaloub ao Intercept.
Bolsonaro perde em 7 e ganha em 4 capitais no 2° turno
Os candidatos apoiados por Jair Bolsonaro venceram em quatro capitais, e foram derrotados em sete. Bolsonaro venceu com os seguintes candidatos por ele apoiados: Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo; Sebastião Melo (MDB), em Porto Alegre; Abilio Brunini (PL), em Cuiabá; Emilia Correia (PL), em Aracaju.
E perdeu com Marcelo Queiroga (PL), em João Pessoa; Cristina Graeml (PMB), em Curitiba; Delegado Eder Mauro (PL), em Belém; Janad Valcari (PL), em Palmas; Fred Rodrigues (PL), em Goiânia; Bruno Engler (PL), em Belo Horizonte; e André Fernandes (PL), em Fortaleza.
Todos ex-ministros de Bolsonaro que disputaram eleição 2024 perderam
Todos os dois ex-ministros do governo Jair Bolsonaro que disputaram as eleições municipais de 2024 perderam a disputa. As derrotas ocorreram em duas capitais do Nordeste.
Em João Pessoa, o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga (PL) chegou a ir para o segundo turno na disputa pela prefeitura da cidade, mas acabou derrotado por uma ampla margem.
Com pouco mais de 98% das urnas apuradas, Queiroga tinha recebido 36% dos votos neste domingo (27/10). O vitorioso foi o atual prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), que foi reeleito.
No Recife, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL) perdeu a eleição para a prefeitura. Na cidade, o prefeito João Campos (PSB) venceu a disputa ainda no primeiro turno.
Ex-chefe da Abin de Bolsonaro também perdeu
Além de Queiroga e Gilson, outro importante aliado o de Bolsonaro que saiu derrotado nas urnas foi Alexandre Ramagem (PL), ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Interligência).
Ramagem concorreu à Prefeitura do Rio de Janeiro, mas perdeu a disputa ainda no primeiro turno. Na capital fluminense, o prefeito Eduardo Paes (PSD) se reelegeu na primeira etapa da eleição.
Bolsonaro e Valdemar brigam pelo comando do PL… e da extrema direita
Aumentou o clima de guerra fria entre Jair Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto pelo controle do PL. Proibidos pela justiça de se falarem por conta da investigação da tentativa de golpe de Estado, o presidente de honra e o presidente de fato do partido trocaram farpas pela imprensa nas últimas semanas.
Apesar de se tratarem de maneira elogiosa publicamente, com a falsidade característica dessa gente golpista, ambos têm passado recados claros nas entrelinhas. No último dia 11, Valdemar declarou que apoiar uma eventual candidatura Tarcísio de Freitas, hoje no Republicanos, seria o “primeiro da fila” entre as opções do PL para a disputa à presidência em 2026.
Bolsonaro não deixou barato e declarou em entrevista: “Eu sei que não sou nada no partido, agradeço muito o Valdemar por ser presidente de honra, mas o candidato para 2026 é Jair Messias Bolsonaro”. O ex-presidente está inelegível até 2030, mas não admite que ninguém do seu campo político cogite qualquer outro candidato presidencial que não seja ele.
Em outra entrevista, Valdemar ousou um pouco mais e criticou diretamente a postura intransigente de Bolsonaro em não querer apoiar candidatos do PL nas cidades em que o partido está coligado com partidos de esquerda, como é o caso de São Luís, no Maranhão.
“Há lugares no Brasil, como no Maranhão, onde não há esquerda e direita. Há gente com fome. Vamos ter de trazer esse pessoal para ganhar a eleição. Trazer não é difícil. O duro é o Bolsonaro e o pessoal da extrema direita aceitar. Eles não querem”, afirmou Valdemar.
O ex-presidente respondeu novamente, mas de maneira velada, sem citar o nome do correligionário: “Quer dizer que não tem pessoas honestas no Maranhão? Temos como fazer no Maranhão 400 deputados federais que vão orgulhar o estado, o partido e o Brasil. Eu não posso entender alguém dizer que não tem bolsonarista no Maranhão”.
Outro motivo de disputa entre os dois é o controle da Fundação Álvaro Valle — órgão do PL responsável por realizar pesquisas e cursos de formação do partido. Bolsonaro quer colocar o 03, Eduardo Bolsonaro, no comando da fundação que tem um orçamento milionário — cerca de R$ 20 milhões só neste ano.
Eduardo Bolsonaro pretendia assumir a fundação para usar a verba em atividades destinadas a difundir a ideologia de extrema direita e alimentar a militância bolsonarista. Hoje, o órgão é chefiado por uma aliada política de Valdemar, que já deixou claro que não irá ceder ao pedido de Bolsonaro.
“A fundação fica comigo. Ninguém da família Bolsonaro tocou nesse assunto comigo e não há briga. Aquilo que não gasto com o partido durante o ano vem para a fundação e já guardamos para a eleição seguinte. E, do jeito que o partido está, tem sido difícil guardar verba”, declarou Valdemar, numa tentativa de disfarçar que existe uma luta pelo orçamento do órgão.
Depois de deixar Bolsonaro furioso ao cogitar Tarcísio como candidato do PL em 2026, Valdemar voltou atrás e afirmou em nova entrevista que o ex-presidente conseguirá reverter a inelegibilidade e será o candidato do partido.
É claro que ele não acredita nisso, tanto que não descartou a possibilidade do ex-presidente ser preso: “O Bolsonaro vai ser candidato. Sabe por quê? Se prenderem o Bolsonaro e ele lançar de candidato um poste para Presidente da República?”.
Valdemar disse ainda que hoje o PL não tem votos para vencer Lula em 2026, o que é verdade. Para conquistar esses votos, ele sabe que é preciso costurar alianças com setores da direita e do centro que não fazem parte do bolsonarismo raiz. Para o presidente do PL, o radicalismo bolsonarista já deu o que tinha que dar e o único caminho para o sucesso na próxima eleição presidencial é o do pragmatismo.
Apesar de Tarcísio de Freitas dizer que Bolsonaro será o seu candidato e publicamente demonstrar fidelidade canina a ele, suas movimentações políticas deixam claro que ele tem se preparado para ser o candidato em 2026.
Ao contrário de Bolsonaro, Tarcísio entrou de cabeça na campanha de Ricardo Nunes em São Paulo e prestou apoio a vários candidatos de centro e direita do estado que estão fora da órbita do bolsonarismo.
Não é à toa que Kassab, o grande vencedor das eleições municipais, já deixou claro qual é o seu projeto: “Meu projeto é Tarcísio, sendo Tarcísio, eu vou estar alinhado com o projeto que seja compatível com o projeto do Tarcísio, seja ele governador ou presidente”, disse Kassab. Essas movimentações de Tarcísio nos bastidores têm preocupado o clã Bolsonaro, que percebeu que o seu poder de influência dentro da direita está minguando.
Bolsonaro continua sendo a maior liderança da direita, mas já não tem o mesmo apelo eleitoral de antes. Isso ficou evidente em várias disputas municipais, principalmente em São Paulo, onde o sucesso da candidatura de Pablo Marçal revelou que nem todo eleitor bolsonarista vota em quem o mito mandar.
O sucesso eleitoral do PSD de Kassab mostrou que é possível um partido de direita sobreviver eleitoralmente fora do guarda-chuva do bolsonarismo. Valdemar está lendo esses sinais e, por isso, passou a estufar o peito dentro do partido.
Ele entende que o PL precisa retomar o pragmatismo para se manter forte, e a presença do ex-presidente é um entrave para isso. Está bastante claro que o radicalismo bolsonarista não será suficiente para evitar a reeleição de Lula em 2026.
Bolsonaro e Valdemar mantêm uma relação tensa há tempos, que só durou até aqui por conveniência mútua. O primeiro tem os votos, enquanto o segundo tem o partido com o maior orçamento do país.
Mas o cenário está mudando e tudo indica que essa relação, que sempre foi frágil, está caminhando para uma ruptura. Valdemar parece estar disposto a sacrificar Bolsonaro para recolocar o partido no caminho do pragmatismo.
Dentro desse contexto, não é difícil imaginar que o presidente do PL não só está cogitando a possibilidade de Bolsonaro ser preso, como está torcendo para que isso aconteça. Com o ex-presidente enjaulado, o PL ficaria livre para formar uma coalizão em torno de Tarcísio e chegar forte em 2026 para enfrentar Lula.